Duas coisas são certas sobre a pandemia da COVID-19. A primeira certeza é que a quarentena passará, e a segunda é que o mundo que nos receberá de volta não será mais o mesmo. Essa nova realidade que nos espera ganhou o nome de “novo normal”. Essa expressão que está sendo massificada nas últimas semanas não é novidade. Historicamente, ela é usada para mostrar a readequação da sociedade diante de grandes crises econômicas, sociais, políticas e culturais (como as guerras mundiais, o ataque terrorista no World Trade Center, a crise de 29, só para citar alguns exemplos).
Apesar de qualquer previsão futurística ser um mero exercício da imaginação, podemos usar alguns dados para nos ajudar na construção dessa imagem coletiva de futuro. Um quebra-cabeça amplo para ajudar os empresários no planejamento estratégico e para te preparar para esse novo momento.
Vale lembrar que esse conceito se aplica enquanto não existir uma imunização geral da nossa sociedade. Especialistas acreditam que uma vacina com eficácia comprovada leve ao menos 18 meses para ficar pronta. Isso sem contar o tempo de distribuição e aplicação. Enquanto esperamos pela cura, o mundo muda lá fora e aqui dentro também.
O (re)propósito da casa:
Na rotina frenética do dia a dia era comum o olhar pra residência como um lugar de descanso apenas. Existem muitos casos de pessoas que prefeririam morar em lugares menores, menos confortáveis, pela facilidade de estar perto do trabalho, faculdade, etc. Mas qual a utilidade disso quando estamos quase todos confinados? Está cada vez mais claro que a casa deixou de ser o lugar que você vai quando não tem nada para fazer, ou quando precisa repousar. Ela voltou a ser o que ela foi feita para ser: o lugar de se viver com seus pares. E, atualmente, se tornou seu local de trabalho, sua academia, seu lazer.
Além disso, o entorno virou um diferencial ainda maior. Se antigamente o luxo era morar perto do litoral, agora o importante é estar cercado por lugares essenciais: mercados, restaurantes, farmácias, padarias, hospitais, entre outros. E, principalmente, uma boa conexão de internet e poucas restrições de acesso aos deliverys.
Esse aprendizado forçado e essa tendência podem se refletir nos futuros lançamentos imobiliários. O mercado tem vários exemplos de prédios que vendem apartamentos não muito espaçosos, mas que possuem uma área completa de lazer coletiva. Será que isso será visto como uma força, ou uma fraqueza desse modelo de empreendimento? Você trocaria uma varanda maior para dividir uma academia com dezenas pessoas nesse momento? É preciso repensar o óbvio e ter a certeza que os valores de ontem não se aplicam mais hoje. É a verdadeira metamorfose ambulante.
Aproveitando o assunto…
Lazer coletivo:
As academias fazem parte de um setor da economia que provavelmente precisarão readaptar o funcionamento. Os dias de dividir e ignorar a higienização dos aparelhos ficaram no passado, nos anos A.C. (antes da Covid-19). Uma solução talvez seja desenvolver um sistema de agendamento de treino, no qual poucos alunos teriam acesso aos equipamentos e ao final do uso uma equipe da limpeza seja acionada. Além de determinar um horário para você ingressar no espaço físico para treinar, o seu tempo teria um período máximo de duração, para não atrasar o exercício do “coleguinha”. Isso tudo feito com um distanciamento seguro entre os clientes, staff, etc. Mas tem modelos que precisarão ser reconstruídos do zero. Você sairia hoje da sua casa pra fazer aulas de spinning, running e jumping, que concentram várias pessoas numa sala pequena com pouca, ou nenhuma, circulação de ar? Isso sem mencionar as lutas de contato com judô e jiu-jitsu.
E não para aí. Shows, teatros, cinemas, restaurantes, praças, shoppings, são lugares que precisam de pessoas presentes para sobreviver. Nesses casos, coexistir é existir. Uma certeza é que eles continuarão vivos, mas precisarão repensar sua operação e, com certeza, a sua capacidade. Se os cinemas de rua deram lugar para o cinema de shopping por causa da segurança, pra onde eles migrarão agora? O foco é manter condições para o lazer atrelando-o ao afastamento social saudável entre as pessoas. Vai demorar para estrear a próxima estreia lotada.
A popularização das lives:
Talvez uma alternativa para essa mudança de cenários esteja na popularização das lives. Será que o setor de espetáculos está preparado para tirar do espaço físico as suas apresentações e colocá-los no digital? A resposta (como você pode perceber nos tópicos quentes do dia, vídeos mais assistidos das redes e memes) é sim. A transmissão ao vivo se tornou algo comum nos dias atuais, tanto para artistas divulgarem a sua arte, quanto para ilustres desconhecidos abordarem os assuntos dos mais variados.
Você pagaria para ver o seu artista favorito por uma tela? Na época do Vinil, CD, VHS, DVD, Blu-Ray e afins, era comum comprar uma gravação de um show ao vivo. A diferença é que agora nesse mundo conectado você pode interagir com as apresentações dos seus artistas favoritos, mandando mensagens e doando dinheiro. Provavelmente essa não será a realidade de todos os espetáculos, porém essa foi uma janela escancarada pela quarentena que dificilmente se fechará tão rápido.
E se em vez de colocar a playlist de um artista para tocar no seu evento você puder contratar ele para uma apresentação virtual exclusiva para você e seus amigos compartilharem? Artistas que dependem de couvert artístico para angariar recursos costumam estar limitados ao espaço físico, mas com a internet eles possuem (literalmente) um mundo de possibilidades. Sites como o MandaSalve já estão vendendo mensagens personalizadas de influenciadores e artistas.
Quando falamos do consumo de material audiovisual lembramos do streaming, que continua ganhando força na crise, mas está vendo o renascimento de um antigo concorrente.
A volta da TV e do jornalismo:
O mundo vivia, e vive ainda, uma mudança de ares quando o assunto é consumo de conteúdo. As mídias tradicionais (rádio e TV) começaram a perder força para os serviços de streaming. No início do ano de 2020 a Netflix surpreendeu o mercado ao publicar o número de assinantes. No último trimestre de 2019 a empresa aumentou a base de assinantes em 8,8 milhões, tendo agora algo em torno de 167 milhões de assinantes. O plot twist é que se esperava um crescimento, mas menor.
Esse exemplo ajuda na ilustração que os serviços de streaming não são mais o futuro, mas o presente. Tanto é verdade que as mais diversas produtoras de conteúdo audiovisual no mundo estão correndo para criar uma plataforma para chamar de sua, como aconteceu com a Disney e com a Globo.
O motivo do crescimento é simples. No mundo moderno o cotidiano é tão corrido que não dá para como acompanhar uma grade de programação. Por isso, é necessário um conteúdo on demand que seja reproduzido no momento que você quer consumi-lo. Porém, no meio do caminho tinha uma pandemia.
Na crise de saúde que vivemos e seus inúmeros desdobramentos políticos, econômicos, sociais e culturais, os programas jornalísticos voltaram a chamar atenção e o resultado se traduz em espectadores. Prova disso é que o Jornal Nacional do dia 17 de março bateu seu recorde de audiência em 2020 na Grande São Paulo, com pico de 41,3 pontos. Cinco em cada dez televisores paulistanos estava sintonizam no telejornal.
Muito disso se deve também a expressão que se destacou no mundo há alguns anos “Fear of missing out” (“medo de ficar de fora”, em tradução livre), conhecido também pela sigla FoMO. A nossa sociedade hiperconectada sente medo de perder alguma coisa. Se antigamente o pavor era ficar de fora de algum meme, ou um trending topics quente no twitter, agora são as informações sobre o coronavírus que estão no holofote. A internet ainda é usada como uma ferramenta para esse consumo. Mas quando procuramos informações atualizadas e confiáveis os meios tradicionais de imprensa ainda são uma opção que possuem credibilidade. Em tempos de pós-verdade saber onde se informar é essencial. Afinal, como dizem, “fonte é tudo”.
Culinária em alta:
Outra coisa do passado que voltou com força é a não dependência dos serviços de gastronomia. O setor gastronômico conseguiu rapidamente reformular sua atuação e manter algum lucro apesar da crise. Porém, com as incertezas sobre o que vai acontecer a ideia geral é tentar conter gastos desnecessários. Pensando nisso, está cada vez mais comum acompanhar nas redes as aventuras gastronômicas das pessoas fazendo de tudo: de pão a pratos clássicos. A cozinha é um lugar de encontro e troca com o outro. Cozinhar pode virar um programa de família, que além de baratear sua refeição vai gerar novos momentos de conexão.
Um dos motivos disso é enorme oferta de receitas na internet (YouTube, sites e cursos on-line). Além da popularidade que o tema ganhou recentemente no país com programas sobre o tema como o MasterChef e o Mestres do Sabor.
Ainda são muitas as mudanças dessa nossa nova normalidade. Por isso dividimos esse artigo em dois. Clique aqui para conferir a segunda parte e descobrir que novos rumos o mundo tomará.
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